Samba e identidade nacional

Samba se conecta aos processos de formação da identidade nacional brasileira

Obra examina as origens do ritmo musical, seus processos e relações sociais na composição identitária do Brasil

Contestando os autores clássicos da história da cultura brasileira, que definem o samba como música portuguesa com influência negra, o autor – e músico – Magno Bissoli Siqueira demonstra em Samba e identidade nacional: Das origens à Era Vargas, com base em bem documentada pesquisa, que o ritmo se originou, sim, na África. Além disso, busca investigar, de forma instigante e inovadora, o tema “samba e identidade nacional”, abordado de forma genérica pela historiografia que cobre o período Vargas, e, também, como e em que contexto deixou a marginalidade no começo do século 20 para se transformar em produto de valor comercial e um dos ícones mais simbólicos do Brasil contemporâneo – ainda que, para tal, tenha sofrido um processo de “branqueamento”.

“Com a nova configuração social que se delineava, novas formas de ação tornavam-se necessárias no processo de construção do Estado nacional, inspirado nos modelos europeus, dentre elas a elaboração de uma identidade nacional”, escreve Siqueira. Ele explora três premissas principais: que o samba é caracterizado por sua configuração rítmica e esta advém de uma matriz africana, legada através da música religiosa daqueles povos; que a partir dessa matriz o samba fatiou-se em derivações, representando, algumas delas, determinados segmentos da sociedade; que, nesse processo, desenvolveu-se a profissionalização no campo da música popular, voltada para o mercado da comunicação de massa e entretenimento, em expansão.

Ao longo dos seis capítulos, o autor analisa os personagens e os formatos musicais do gênero que serviu como catalisador da brasilidade, partindo de um substrato inicial, essencialmente criado pela cultura negra de raízes africanas e de registro predominantemente oral. Daí nasce um paradigma rítmico que depois será filtrado e apropriado pelas variadas formas do samba urbano carioca, as “derivações”, que constituirão as bases tanto para suprir o novo mercado fonográfico quanto para servir à construção de uma identidade que ajudasse a fortalecer um pretenso Estado nacional.

“A convergência dos interesses do Estado na afirmação de uma identidade moderna para o Brasil, o desenvolvimento da radiodifusão, o “encolhimento” do ambiente cultural mundial, a industrialização brasileira em ambiente de crise internacional, foram elementos convergentes que parecem haver cooperado no sentido de construírem juntos novos mitos e uma nova identidade nacional”, pontua.

Sobre o autor – Magno Bissoli Siqueira é músico, compositor, educador, historiador e produtor musical. Professor e doutor formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, é percussionista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo e diretor artístico do Ensemble Bissamblazz. No Brasil, destacou-se por apresentações com grupos de música contemporânea e peças de teatro, como Calabar de Ruy Guerra e Chico Buarque (1980). Sua discografia inclui 18 títulos como intérprete e seu método “O Balanço do Samba” é referência para o ensino do ritmo no Brasil e no exterior.

Título: Samba e identidade nacional: Das origens à Era Vargas
Autor:
Magno Bissoli Siqueira
Número de páginas: 287
Formato: 16 x 23 cm
ISBN: 978-85-393-025-12

Sumário